Não chamava
Via online todos os dias. Curtia tudo. Todas as fotos. Nunca conversaram. Mas sabiam que tinham muita coisa em comum. Os dedos coçavam de vontade de chamar pra conversar. Pra sair. Mas não sabia puxar assunto. Nunca chamava pra nada. Queria comentar alguma coisa. Mas de preferência só com o olhar. Então não escrevia nada. Tentou começar algumas vezes. Mas apagou. Não sabia ser assim.
Só ficava se imaginando naquele parque da foto também. Pensava em várias conversas que nunca aconteceram. Sabia que sua observação era percebida. Sabia que era recíproco. Mas nunca chamava pra nada. Sonhavam à distância o mesmo sonho. Gostavam de saber que dividiam o mesmo planeta. Que observavam o mesmo céu. E sonhavam o mesmo sonho. Mas nunca chamava pra nada.

Paulistano, 20 anos, estudante de jornalismo. Recitador compulsivo das próprias histórias e eternamente imerso na leitura do mundo.